10 Ago DO QUE É QUE ESTAMOS REALMENTE A FALAR?!
A DOENÇA EMOCIONAL É
DOENÇA ESPIRITUAL
A doença emocional é doença espiritual. Esta afirmação baseia-se na nossa experiência e em observações. Quando estávamos emocionalmente doentes, estávamos, de facto, espiritualmente doentes. Antes que interrompa a leitura, peço-lhe que considere o seguinte: uma definição de “espiritualmente doentes” é: “que diz respeito a pensamentos e emoções”. Indubitavelmente, estávamos doentes nos nossos pensamentos e emoções. Não pedimos para dar um significado sobrenatural a “espiritual”, embora para muitos de nós tal significado realmente se aplique.
A sabedoria popular há muito tempo usa a palavra “espiritual” ou “espírito” para descrever o estado de ânimo da pessoa. Alguns exemplos são: “O seu estado de espírito é pobre”, “Ela está com o espírito endiabrado”, Estás com um estado de espírito tranquilo”, “Ele é uma pessoa cheia de espírito”. Nessas expressões, faz-se referência ao modo de sentir, de pensar, de ver o mundo e às atitudes perante a vida. Assim, o espírito da pessoa é realmente a soma das suas emoções, pensamentos, atitudes, crenças, natureza dos sentimentos e de tudo que a leva a agir da maneira pela qual o faz.
Componentes físicos e mentais estão envolvidos, naturalmente, porém dando a sua contribuição para o “espírito” total. Muitos médicos disseram a muitos de nós, depois de testes exaustivos, que não havia nada de fisicamente errado connosco. Fomos então forçados a concluir que a nossa doença era mental e espiritual.
Depois de outros testes para verificar a nossa capacidade mental, e depois de consultar psiquiatras e descobrir que as nossas mentes estavam intactas, fomos forçados a concluir que a nossa doença era espiritual. Descobrimos que estávamos cheios de ódio, ressentimento, raiva, auto-piedade, ganância, egoísmo e outras emoções indesejáveis. Essas emoções indesejáveis constituem a nossa natureza “espiritual” ou maneira de ver as coisas. Precisam ser mudadas para recuperar-mo-nos.
A constatação de que precisamos mudar espiritualmente foi um grande choque para nós. Muitos de nós éramos contrários a tudo que se chama-se “espiritual”. Pode usar outra palavra se preferir. Se não há nada de errado com a tua mente, as atitudes e sentimentos podem ser mudados mantendo intactas as qualidades mentais. Através dessa mudança, é o “espírito” que se modificará.
Portanto, não tendo nada de física e mentalmente errado, declaramos que a nossa doença é espiritual.
A prova mais segura de que a doença emocional é doença espiritual é que o indivíduo doente pode recuperar-se através da ajuda espiritual. Observamos casos extraordinariamente numerosos para que possamos duvidar. Assistimos a casos em que as pessoas tinham tentado todos os meios conhecidos. Foi unicamente a ajuda que as fez sarar. No meu próprio caso foi o que aconteceu. Eu tinha tentado todos os tratamentos criados pelo homem. Passei mais de cinco anos a fazer tratamento psiquiátrico, consultei muitos médicos, tomei milhares de medicamentos, tentei a religião e cheguei a tentar quiromancia e o hipnotismo. Não recuperei enquanto não tive ajuda espiritual, e encontrei essa ajuda num dos grupos anónimos. Vi e ouvi muitas outras pessoas com histórias semelhantes. A ajuda espiritual curou-as, ao passo que, por meio de qualquer outro sistema, elas não tinham conseguido recuperar. Consequentemente, SE A AJUDA ESPIRITUAL CURA UMA PESSOA EMOCIONALMENTE DOENTE, ENTÃO A DOENÇA EMOCIONAL É DOENÇA ESPIRITUAL.
Muitos psiquiatras também dão ênfase à parte espiritual e aconselham os seus pacientes a procurarem tal ajuda. Carl Jung, o famoso psiquiatra suíço, foi um dos que salientou a importância dessa ajuda. Muitos psiquiatras de hoje declaram que é necessário algo mais do que a análise – a ajuda espiritual também é necessária.
Até agora falei de “espiritual” no que diz respeito ao modo de sentir do indivíduo e à sua maneira de ver as coisas. Irei mais longe agora e falarei de “espiritual” noutros significados – no que se relaciona com a “alma” ou significados que não são considerados do ponto de vista físico. Falarei a respeito de entrar numa relação harmoniosa com um Poder maior do que nós mesmos. Direi que esse poder é Deus como nós o concebemos. É indispensável apenas que a pessoa acredite num Poder maior do que ela mesma. Esse Poder pode ser qualquer coisa – a força da gravidade, o movimento dos átomos, a evolução, o amor humano, enfim, qualquer coisa. É necessário apenas que o indivíduo admita um Poder superior a si mesmo – que Algo existe que seja superior a si mesmo. Isso serve, habilmente, para eliminar o egocentrismo (tão pronunciado nos doentes emocionais) a fim de que o indivíduo se possa tornar num ser humano. Saímos, assim, para fora de nós mesmos.
Esse Poder, independentemente da forma como seja concebido, ajudará o indivíduo doente a transformar-se, a recuperar-se. Consideremos o amor humano como sendo esse Poder. Sem dúvida, o facto mesmo de vir a amar o seu semelhante transformará o indivíduo. Deixaremos de nutrir aversão às pessoas e de nos retrairmos para passarmos a amá-las e desejar estar com elas. Isso é transformação e ela é motivada pela ajuda “espiritual”. Mesmo a decisão de ingressar na corrente da realidade, em vez de lutar contra ela, fará com que nos modifiquemos.
Observemos o indivíduo que se transformou – aquele que se recuperou. Qual é a primeira coisa que notamos? Ele é feliz, afectuoso, ajuda os outros; o “estado de espírito” é bom. Como era antes da mudança? Era melancólico, zangado, incapaz de amar, irritável; o “estado de espírito” era pobre. Fisicamente não houve mudança; tampouco mentalmente, no que dia respeito às suas capacidades mentais. A mudança ocorreu nos seus pensamentos e emoções, que é o mesmo que dizer que ela ocorreu no seu “espírito”.
Qualquer pessoa capaz de ser honesta pode conseguir uma mudança de espírito e recuperar-se da doença emocional. É preciso que reconheça as suas falhas e o que o está a fazer continuar doente. É preciso que venha a acreditar num Poder Superior e que procure entrar em harmonia com esse Poder. Para sarar de qualquer doença, física ou de qualquer outra natureza, é necessário reconhecer qual é a doença. Por exemplo uma perna partida deve ser reconhecida como tal antes de ser tratada. O diagnóstico vem portanto, em primeiro lugar. Não traria nenhum benefício tratar um dente se o problema for a perna partida. Contudo, no que diz respeito à doença espiritual, frequentemente procurámos tratá-la com algo apropriado para outras patologias/doenças. Vamos, portanto, ser coerentes e tratar a doença espiritual com ajuda espiritual. Nunca vimos esta ajuda falhar com quem sinceramente a tenha procurado. E nunca vimos um indivíduo não se recuperar quando procurou a ajuda espiritual.
Recuperamo-nos todos, quando reconhecemos que a doença emocional é doença espiritual e procuramos a ajuda apropriada. Desta forma, podemos mudar e descobrir uma vida feliz.
(Transcrito do JOURNAL OF MENTAL HEALTH de Novembro de 1966)