27 Jun Relações Familiares e Dependências
Os comportamentos aditivos afetam diretamente as relações interpessoais, sendo a família o principal sistema, onde são observadas as consequências, quer a nível de saúde dos seus membros quer na fragilização das relações familiares.
Como principal fator relacionado na formação familiar destaca-se o diálogo. Por meio deste, os elementos da família tornam-se mais próximos, estabelecendo uma relação de confiança e apoio, diminuindo a probabilidade de consumo de substâncias por parte de algum membro. Desta forma, as relações familiares saudáveis desde a infância servem como fator protetor.
Como ajudar um dependente químico da família?
A família pode ser uma fonte de apoio importantíssima. Porém, é frequente ter algumas dúvidas sobre como ajudar um familiar dependente, sobretudo por esse ser um assunto muito delicado e nem sempre se sabe como agir ou contribuir para ajudar o familiar.
Entenda a dependência como doença!
Este é o primeiro passo a dar. Afinal a dependência trata-se de um processo de adoecimento tanto físico como mental. É fundamental entender que há algum conflito psicológico por trás da dependência, nomeadamente, traumas anteriores ou até mesmo outras doenças do foro psiquiátrico, como por exemplo, depressão, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, transtorno bipolar, entre outras.
Além disso, a droga modifica as conexões do cérebro do individuo, escravizando todas as emoções e pensamentos. Desta forma, o usuário perde a capacidade de fazer escolhas corretas.
Consequentemente, perde também o interesse noutras atividades e começa a ter prejuízos em vários aspetos da sua vida, sendo um deles a perda de emprego. Á medida em que a sua vida começa a desmoronar, a droga torna-se uma fuga dos problemas.
Eduque-se sobre a dependência
As características e as consequências do uso abusivo de drogas variam de acordo com a substância consumida. Desta forma, para ter uma compreensão mais precisa acerca da situação, é preciso informar-se sobre o tipo de dependência.
Procure saber o máximo possível sobre o tipo de droga que está a ser usada, bem como os seus efeitos e outras características. Assim, sentir-se-á mais preparado e terá uma maior noção do que esperar.
Como identificar sinais de uso de drogas?
O uso da maioria das drogas provoca, inicialmente, sensações de bem-estar. Entretanto, pela sua forte influência no cérebro, várias alterações físicas e mentais também são percetíveis.
Desta forma, orientamos alguns sinais que podem sugerir um quadro de uso de drogas, alguns deles são comuns em todas elas, já outros são característicos de apenas algumas drogas.
Sinais físicos
Todas as substâncias manifestam-se no nosso corpo de formas diferentes, dependendo da droga, alguns dos sintomas mais frequentes são: olhos avermelhados, irritação nas narinas, dedos queimados/manchados, cheiro de álcool, de tabaco ou de outras substâncias, tremores frequentes nas mãos, dificuldade para coordenar os movimentos, fala lenta ou aletrada.
Sinais psicológicos e comportamentais
A mudança do estado de humor é um sinal característico quando há consumo de drogas. O uso de substâncias também pode deixar evidente outros problemas psicológicos, uma vez que causam graves alterações no sistema nervoso. O dependente manifesta uma grande mudança de humor, podendo ir da tristeza, culpa e depressão até à agitação, euforia e irritabilidade.
Além disso, pode apresentar:
– Ansiedade
– Alteração na autoestima
– Medo intenso sem motivo aparente
– Ideias delirantes com suspeita de tudo e de todos (paranoia)
Também é evidente um comportamento repetitivo, afinal a prática do uso de drogas faz com que o individuo comece a direcionar a rotina á volta do consumo. Por exemplo, a pessoa dependente começa a ter hábitos noturnos, conflitos na vida social ou abandono de atividades que lhe eram importantes.
São também considerados um alerta para o consumo de substâncias a mudança de hábitos alimentares, falta ou excesso de apetite e alterações do sono, nomeadamente, insónia ou excesso de sono.
Desta forma, vale reforçar, que uma das melhores ferramentas para lidar com as consequências do uso de drogas é o diálogo aberto e honesto. Evite apontar os erros da pessoa em tom de acusação e reprovação pois isso pode aumentar o consumo.
Faça uma abordagem sem julgamentos!
Quando tentar abordar o seu familiar dependente químico, é fundamental ter empatia e demonstrar compreensão e apoio. Tente não o julgar nem o confrontar. Apenas converse com ele de forma calma e sincera. Fale das suas preocupações e mostre que está do seu lado.
Também é essencial não comparar a pessoa com ninguém nem a abordar com agressividade. Atitudes como estas apenas pioram a situação, e levam o seu familiar a mentir ou a esconder as suas ações.
Normalmente o dependente não reconhece que tem uma dependência. Desta forma, pode tentar abordar as suas mudanças de atitude e, com calma, incentivá-lo a procurar ajuda.
Assim, pode falar acerca dos tipos de cuidados e tratamentos existentes, oferecer ajuda na procura de profissionais e apoiá-lo durante todo o processo. Se a pessoa se recusar, uma opção, é abordá-lo com paciência e pedir que, aceite pelo menos conhecer as opções existentes.
Ajude a pessoa a entender que precisa de ajuda
À medida que a pessoa tenta parar o consumo de drogas, mas não consegue, a autoestima dela diminui e começa a pensar que nunca irá conseguir parar o consumo. Portanto, a família, tem um papel fundamental para encorajar o dependente a procurar ajuda.
Para tal, mostre que o processo será complexo e difícil, no entanto, superável com a devida ajuda, e que a família estará sempre presente para dar toda a ajuda necessária.
Observe o comportamento
Quando se refere para não julgar o dependente, não quer dizer que a família terá um papel passivo, antes pelo contrário. A ajuda dos familiares é fulcral, sobretudo em relação à observação do comportamento. Isso ajuda a equipa técnica a lidar melhor com as particularidades de cada utente.
Ajude a identificar o nível da dependência
Como grande parte das doenças, a dependência química piora ao longo do tempo caso não haja um tratamento adequado. Isto é, não é preciso esperar que o individuo perca o emprego, o casamento e as amizades, para tomar uma atitude.
Não tenha receio de abordar o assunto, desde que respeite a condição da pessoa, e lembre-se, sempre sem fazer acusações ou juízos de valor.
É essencial observar o grau de motivação da pessoa para outras atividades do dia a dia, os prejuízos acumulados, entre outros.
Estabeleça limites para lidar com o dependente
Demonstrar apoio é essencial, no entanto, é preciso ter cuidado para não incentivar ou encobrir o consumo de drogas. Tente colocar limites, por exemplo, refira que não concorda e que não vai contribuir para o uso da substância.
Não lhe dê dinheiro para sustentar a dependência nem estipule horários em que a droga possa ser consumida. Em vez disto, mostre que se importa e que o apoia na procura de tratamento.
O que é a co-dependência e como evitá-la?
A co-dependência é a colaboração com a dependência de outra pessoa, a qual pode ser feita de forma inconsciente. Em alguns casos, o dependente tem na família, pelo menos um familiar co-dependente. Neste caso, este não toma a iniciativa de ajudar o adito a interromper o uso das drogas e acaba, por sofrer com as consequências junto do dependente.
Algumas vezes, os familiares pagam as dividas deixadas pelos dependentes, a fiança para o retirar da prisão e, até continuam a dar dinheiro para a pessoa, o que incentiva, mesmo de forma indireta, a própria dependência química.
Una a família
É fundamental que a família se mantenha unida e que todos os membros se apoiem mutuamente. Isso ajuda a todos a lidar com a situação.
Não corte os laços afetivos com o dependente químico
O processo é difícil para os familiares porque normalmente há muitos conflitos com o dependente. Intuitivamente, achamos que as discussões e os confortamentos vão fazer a pessoa reagir. No entanto, as pesquisas evidenciam a importância do afeto.
Quando a pessoa com dependência se sente amado, pode-se motivar a parar os consumos. Porém, se ela se sente abandonada, perde a esperança e desmotiva.
Entre em contacto com outros
Participar em grupos de apoio, falar com outras famílias e conhecer experiências similares pode ser uma mais valia.
Fique sempre por perto no pós-tratamento
É necessário ter consciência de que um dependente deve estar sempre em alerta e, deve ainda estar apto para detetar quando há risco de recaída, fazendo-o recordar a vida antes do tratamento.
Incentive o seu familiar a fazer novas amizades e que não volte a contactos antigos, ajude-os a encontrar um emprego caso seja necessário e a mantê-lo ocupado. Assim, fica mais fácil manter-se longe de uma recaída, uma vez que existe sempre alguém por perto para apoiá-lo.
Posto tudo isto…
A dependência química é algo sério, que pode comprometer uma grande parte da vida e até levar à morte se não tratada atempadamente.
Sabendo disso, é essencial que as pessoas próximas ao dependente analisem o comportamento do mesmo, estejam abertos a aprender e discutir sobre a temática e, por último, saber apoiar.
Porque é importante apoiar o seu familiar?
– O seu familiar tem uma maior aderência ao tratamento
– Pode melhorar a comunicação da família
– Pode influenciar de forma positiva a relação entre os familiares, aumentando a confiança
Referências Bibliográficas:
- Freires, I. A., & Gomes, I. A. (2012). O papel da família na prevenção ao uso de substâncias psicoativas. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, 16 (1), 99-104
- Pessoa, W. (2 de março de 2018). Viver sem drogas. Obtido de Viver sem drogas: https://blog.viversemdroga.com.br/como-ajudar-um-dependente-quimico-na-familia/
- Tinoco, D. (10 de 10 de 2021). Diego Tinoco. Obtido de Diego Tinoco : https://diegotinoco.com.br/como-familia-deve-lidar-com-um-dependente-quimico/